Eduardo Florêncio é mais um dos heróis anônimos da saúde que contraíram o novo coronavírus. Confira o relato do técnico em Radiologia que retornou à linha de frente.
Em São Paulo, a equipe multiprofissional de saúde do Hospital Municipal de Emergências Albert Sabin acolheu, de braços abertos, o Técnico em Radiologia Eduardo Florêncio, recém recuperado do novo coronavírus. Com 38 anos, sendo 16 deles voltados à profissão, ele conta ao Conselho Nacional de Técnicos e Tecnólogos em Radiologia (CONTER) como foi sentir na própria pele a doença que enfrenta diariamente ao cuidar dos pacientes.
CONTER: Como foi ter ficado doente em meio a pandemia? Poderia nos contar como aconteceu tudo isso?
Eduardo Florêncio: No início do mês de abril, eu apresentei sintomas leves e imaginei que se tratava de uma gripe comum. Com o tempo, o quadro se agravou e senti dor de garganta, febre, dores no corpo, mal estar e uma dor de cabeça que nunca tinha sentido na vida. Fui me consultar no Hospital Albert Sabin, onde trabalho, e recebi um atestado de 7 dias, sendo tratado como assintomático e em isolamento social. Ainda na mesma semana, no dia 10 de abril, voltei ao médico por conta de pioras no meu quadro clínico. Senti outros sintomas da doença, como perda do paladar e do olfato.
Cheguei a perder peso e não sentia vontade de comer. No teste rápido, o resultado deu negativo. Entretanto, na sequência, realizei o teste swab (PCR). Uma semana depois, saiu o resultado positivo para COVID-19. Fiquei mais sete dias em casa, de quarentena. Ao todo, foram 22 dias com os sintomas. Meu maior medo era que a doença chegasse aos meus pulmões. Como não atingiu, consegui manter a calma com o tempo.
CONTER: O que te motivou a voltar ao trabalho quando se recuperou?
Eduardo Florêncio: Minha rotina sempre foi muito movimentada. Confesso que não aguentava mais ficar em casa sem fazer nada. Os primeiros dias não fora fáceis, mas respeitei o tempo de quarentena para não correr o risco de transmitir a doença. Amo o trabalho que faço. Queria voltar para a tomografia o quanto antes.
CONTER: Como foi a retomada ao serviço?
Eduardo Florêncio: Muita felicidade! A emoção de ter sido recebido com tanto carinho por cada colega de setor… me sinto muito agradecido aos amigos, colegas, diretoria. Ao longo dos dias em que estive fora, foram várias as mensagens de preocupação, positividade e orações. Me senti na obrigação de dar o meu melhor no trabalho e contribuir com as equipes que foram desfalcadas com o passar dos dias. Renovado, voltei com gás e vontade contra a COVID-19.
CONTER: Qual a maior diferença que você percebe no atendimento aos pacientes com essa pandemia?
Eduardo Florêncio: Acho que a maior característica que percebemos é o medo. Por vezes, o nosso contato com eles vai muito no encontro de tranquilizá-los. É uma doença que mexe muito com o psicológico. Como eu consegui me recuperar, tenho dado esses cuidados ainda mais humanizados para os pacientes e outros colegas que, infelizmente, foram infectados. Um dos que ajudei foi um colega enfermeiro, que apresentou sintomas de falta de ar. Procurei diminuir a aflição e dado alguns conselhos depois do atendimento. O zelo nesse momento faz toda a diferença.
CONTER: Quais protocolos você e a equipe de saúde tem adotado ao receber esses pacientes?
Eduardo Florêncio: Seguimos as orientações do Ministério da Saúde. Realizamos uma triagem na entrada do Hospital, a fim de minimizar o contato com o público que busca atendimento por conta de outras enfermidades. Os cuidados, precauções e prevenções foram redobrados com o aumento de casos e com a alta demanda dos setores de raios X e de tomografia computadorizada.
CONTER: E quanto a você? Como tem se cuidado em casa e no trabalho após a doença?
Eduardo Florêncio: Tento seguir o dia a dia com uma alimentação saudável. Tenho tomado suco de laranja e de limão todos os dias, por exemplo. Continuo com as precauções que tomava antes. Retiro toda a roupa utilizada para trabalhar e as coloco em um cesto de roupas na entrada do apartamento. Em seguida, tomo banho e tenho usado sabonete bactericida. Todo cuidado é pouco para minimizar um novo contágio ou transmissão.
CONTER: Esse espaço é seu. Gostaria de externar algo diante do momento de pandemia que vivemos?
Eduardo Florêncio: O principal pensamento que me vem à cabeça é o de valorizar a vida, valorizar os pequenos gestos do dia a dia. Eu fui poupado, mas quantos não tiveram a mesma sorte e tiveram os pulmões acometidos? Vejo que cada momento com as pessoas vale a pena. Tenho dado ainda mais valor aos estudos e à busca de conhecimento, para qualquer situação. Gosto muito da frase de uma professora, chamada Lídia Vasconcelos: “que a gente tenha coragem de fazer o que é preciso, ainda que haja risco de dor”. Agradeço demais a todos que me deram força. Agora, quero retribuir como puder.