O relato de Jussara Torres de Araújo é apenas um em meio a milhares de realidades difíceis que os profissionais da Radiologia enfrentam contra a COVID-19
O novo coronavírus reafirmou a importância dos profissionais da saúde junto à sociedade. Enquanto eles estão na linha de frente do combate à COVID-19, faz-se necessário conhecer a realidade desses trabalhadores e valorizá-los devidamente. Com mais de 124 mil profissionais inscritos e devidamente habilitados, o Conselho Nacional de Técnicos e Tecnólogos em Radiologia (CONTER) entrou em contato com a técnica em Radiologia Jussara Torres de Araújo, 45 anos. Confira como tem sido o dia a dia dela, que atua no setor de raios X do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla (RJ).
CONTER: Qual a maior diferença que você percebe no atendimento aos pacientes com essa pandemia?
Jussara Araújo: Em média, costumo atender 50 pacientes por dia. Como atuo em um hospital de referência, todos que tem passado por lá são suspeitos ou estão confirmados com a doença. Para maior controle, os pacientes agora são atendidos somente pelo Sistema Nacional de Regulação (SISREG), do Ministério da Saúde*. Ao avaliar caso a caso, eles são submetidos a tomografia e/ou raios X, fazem exame de sangue e, por fim, são internados.
(*Através do SISREG, são gerenciadas as vagas disponíveis para atendimento e exames para direcionamento adequado dos pacientes. Na hora da escolha, são levadas em conta a proximidade com a residência e a complexidade do caso.)
CONTER: Como você tem se cuidado no trabalho?
Jussara Araújo: Uso a roupa cedida pela rouparia do hospital e seguimos os protocolos de atendimento deles. Quando vou para área crítica de contaminação, utilizo três pares de luvas. Vou descartando conforme realizo contato com o paciente e todo o procedimento que o envolve. Ao longo do dia, costumo usar duas toucas descartáveis, óculos de proteção, máscara N95, cuja a troca está ocorrendo a cada 7 dias, e máscara cirúrgica dentro do hospital para todos os setores, exceto para refeitório.
CONTER: Então o hospital tem fornecido Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) aos funcionários, certo?
Jussara Araújo: Sim. Além dos que citei, uso também avental de TNT de gramatura 40. Os EPIs são indispensáveis para nós. Entretanto, o macacão impermeável só é fornecido aos técnicos de enfermagem. Os técnicos que atuam na Tomografia também o utilizam, mas o fornecimento é feito por meio de uma empresa terceirizada. Além dos EPIs, lavo as mãos e os antebraços. Depois de secá-los com papel toalha, uso álcool em gel 70% e seguro nas portas com papel toalha. Sempre limpo mouse, teclado, mesas, monitores, chaves e as maçanetas das portas da minha sala com o álcool líquido 70%. Por fim, limpo todo esses equipamentos sempre que passo de um setor para o outro.
CONTER: Por fim, para você, como tem sido enfrentar esse momento tão conturbado que o mundo vive?
Jussara Araújo: Defino como uma situação angustiante… Tenho dois casos de suspeita de COVID-19 na família e conheço amigos que foram infectados. Ainda na semana passada, um colega do meu setor compartilhou em nosso grupo de whatsapp que foi afastado. Eu sou a única responsável legal do meu filho e viúva há quatro anos. Por isso, não posso viver só da minha pensão, que é muito baixa. Preciso do meu trabalho. Me sinto impotente diante de uma doença invisível, enfrentando um vilão que não sabemos praticamente nada. A incerteza e o medo são reais.

DENÚNCIA DE EPIs

Em razão da pandemia, o CONTER criou um site direcionado à divulgação de informações sobre o Novo Coronavírus. No espaço, os profissionais das técnicas radiológicas poderão também realizar denúncia, diretamente aos Conselhos Regionais de Técnicos em Radiologia (CRTRs), sobre a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) em seus respectivos locais de trabalho. Em virtude das práticas de teletrabalho adotadas em todo o país, os profissionais poderão, também, contatar o CONTER via e-mail, no seguinte endereço: conter@conter.gov.br.